Zaire: Património Bantu revolucionou riqueza cultural das Américas
M´banza Kongo, 21/09 – A presença da população negra de
origem Bantu nas Américas revolucionou a riqueza e a diversidade cultural
destes países, defendeu hoje (sexta-feira), em M´banza Kongo, o
especialista em história do Reino do Kongo, o uruguaio, Tomas Olivera
Chirimini.
O estudioso que dissertava o tema “ património Bantu no rio de La Plata”,
inserido no painel “ cultura Kongo e a diáspora”, no terceiro e último dia da
mesa redonda internacional sobre M´banza Kongo-cidade a desenterrar
para preservar, que decorre desde quarta-feira.
O académico reconheceu que, dentro do complexo e extenso capítulo
correspondente ao tráfico de escravos levado a cabo pelas potências
coloniais em África, o rio de La Plata, no Urugauy (América do Sul),
constitui um cenário de referência, por ter servido de porta de entrada de
milhões de africanos às Américas, maioritariamente originários dos
territórios do antigo Reino do Kongo, no extremo do que é hoje Angola.
Para ele, o tráfico negreiro para as Américas foi um processo complexo,
que teve causas profundas e modalidades diversas e que provocou não só
consequências, mas também reflexões em torno desta tragédia que permitiu
as interacções de culturas nas Américas e no Caribe.
Entre as várias consequências desta forçosa presença Bantu naquelas
paragens, acrescentou, foi a participação activa do negro africano na
fundação e desenvolvimento das principais cidades de México, América
central, Antilhas e do hemisfério sul, onde trabalharam como ferreiros,
artesãos, construtores, agricultores e domésticos, mas sempre como mão
de obra escrava.
Apesar das humilhações e mal tratos a que foi submetida a população
africana, sublinhou, esta sobreviveu e conservou a sua identidade original,
demonstrada em alguns casos através da sua música, a dança, que
culminaram com a criação de um estilo de dança conhecido por
“candombe”, entre o povo latino americano.
Por esta razão, referiu ainda o especialista uruguaio, o rio de La Plata deu
lugar a um ambiente natural e propício para o desenvolvimento dos feitos
históricos que determinaram o perfil típico dos países latino americanos.
A mesa redonda internacional sobre “M´banza Kongo cidade a desenterrar
para preservar”, que termina ainda hoje, sexta-feira, conta com a
participação de especialistas nacionais e internacionais em arqueologia,
antropologia, história africana e do reino do Kongo em particular, de países
como, Estados Unidos da América, Uruguay, Portugal, França, Cuba,
Holanda, República Democrática do Congo e Congo Brazzaville.
Os participantes a este encontro estão a dar contribuições a este projecto
sobre M´banza Kongo do professor universitário angolano, Emanuel
Esteves, que consiste em descobrir os vestígios antigos de
M´banza Kongo.
O objectivo é a recolha de contribuições dos referidos especialistas que
vão conformar a proposta angolana a ser submetida a organização das
nações unidas para a educação, ciência e cultura “UNESCO”, no sentido de
atribuir à M´banza Kongo a categoria de património mundial.
A criação de um centro de estudo da área cultural kikongo, na cidade de
M´banza Kongo, o melhoramento e apetrechamento do actual Museu dos
Reis do Kongo e a preservação deste património às gerações vindouras,
assim como da sua lendária e mística árvore secular denominada “yala a
nkuwu”, constituem também objectivos deste fórum promovido pelo
Ministério da Cultura.
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