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Retrospectiva 2004: Programa de corte à transmissão vertical foi uma realidade

Foto Arquivo

Luanda, 05/01 - A criação e execução do Projecto de Corte à Transmissão Vertical do virus HIV/Sida (de mãe para filho), através da testagem voluntária e administração de anti-retrovirais, em três unidades de Luanda, foi uma importante conquista do Ministério da Saúde (Minsa) e parceiros na luta contra esta pandemia em 2004.

O objectivo desse programa é evitar, por meio da administração de anti-retrovirais (AZT), o nascimento de crianças com o vírus nas unidades hospitalares abrangidas pelo projecto: Kilamba-Kiaxi, Ngangula e Cajueiros, cujas mães estejam infectadas.

O arranque deste programa acontece numa altura em que a situação de estabilidade caracterizada pela livre circulação de pessoas, quer a nível inter-provincial quer ao longo das fronteiras, criou um ambiente propício para a proliferação do vírus, que afecta maioritariamente mulheres em todo o mundo.

A feminização da doença vem assim justificar a importância da implementação de um projecto que surgiu não apenas para renovar a esperança das mães afectadas, mas evitar o nascimento de crianças marcadas pela doença.

Para garantir a eficácia e segurança do plano, foi criado um vínculo com a Cooperação Brasileira no âmbito da luta contra a HIV-Sida e as grandes endemias que, de Novembro de 2003 a Fevereiro de 2004, treinou uma equipa composta por técnicos, médicos e enfermeiros que se encontram a trabalhar nas três unidades de referência, nomeadamente Augusto Ngangula, Cajueiros e Kilamba Kiaxi.

Inicialmente concebido para atender as gestantes, filhos e parceiros (testagem, medicamentos e acompanhamento pós-parto), apenas nestas três unidades, o sucesso alcançado ao longo desse ano leva o Minsa a envidar esforços para que o mesmo se estenda, a partir de Janeiro de 2005, a mais duas províncias, Cabinda (3.22) e Cunene (9.12), que apresentam índices elevados.

O sucesso só foi alcançado devido à competência e esforço do pessoal engajado no projecto que soube transmitir, durante as consultas pré-natal, informações precisas sobre a necessidade e importância da realização do teste HIV e a possiblidade de tratamento.

A confiança estabelecida por intermédio do aconselhamento levou 88,3 por cento das mulheres consultadas a aceitar o teste no primeiro encontro dando a si e ao seu filho a possibilidade de uma vida saudável.

Apesar de arrancar formalmente em Fevereiro, com a realização do primeiro parto, só em Junho iniciou-se a testagem que abrangeu, até 30 de Novembro de 2004, três mil mulheres.

Deste número foi identificada uma taxa de prevalência de 5,7 por cento, correspondendo a 205 mulheres infectadas. Actualmente pode-se afirmar que em Angola, sob tutela do programa, estão em tratamento com anti-retrovirais (AZT injectável) no momento do parto 179 gestantes.

Relativamente ao esquema profilático para o corte à transmissão vertical do HIV, Angola adoptou o uso do AZT (Zidovidina) ou NVP (Nevirapina). Ambos os esquemas, segundo a OMS, são comprovadamente úteis e eficazes, descartando assim as dúvidas em relação à qualidade dos medicamentos.

Contrariando todas as vozes que questionaram a durabilidade e eficácia deste método de tratamento, a equipa provou, com o nascimento de bebés sãos que com a aderência cada vez maior das gestantes é possível diminuir a incidência nas mulheres.

O trabalho não termina com o parto. Durante as seis primeiras semanas de vida, a criança é medicada e apenas testada com 18 meses para comprovar que não contraiu o vírus.

Dada a importância do tratamento, apenas 27 das 205 grávidas desistiram do tratamento, tendo-se registado cerca de 12 óbitos, entre os quais oito mulheres e quatro crianças.

O balanço do primeiro ano do projecto de corte à transmissão vertical pode ser considerado positivo, pois o Minsa está a criar as condições para que este tipo de actividade seja uma rotina nas unidades sanitárias e que mais pessoas tenham acesso aos medicamentos.

Positivo se olharmos ao facto de que em nenhum momento houve uma ruptura no fornecimento de testes e medicamentos, apesar do seu elevado custo e por outro lado, porque a sua execução veio aumentar o número de pessoas habilitadas para lidar e tratar o paciente seropositivo, transmitindo-lhe a confiança necessária para prosseguir o tratamento.

Angola ao estabelecer parceria com o Brasil, um país com uma grande experiência no combate à Sida, particularmente no que se refere à produção de medicamentos, prevenção e formação, pretende não só assegurar a continuidade do projecto, mas fazer que este seja, nos próximos anos, dirigido por técnicos nacionais com qualidade reconhecida.

Porém, o país enfrenta uma situação sanitária deficiente, caracterizada pela inexistência de serviços especializados em muitas regiões e concentração do atendimento nos hospitais de referência (distantes da zona domiciliaria). A situação faz com que apenas 30 por cento das mulheres se dirijam às unidades sanitárias durante a gestação.

O Minsa pretende ainda desafogar as unidades centrais, ou seja colocar à disposição dos cidadãos um serviço de qualidade nos postos municipais, evitar que estes percorram grandes distâncias e tornar os medicamentos acessíveis a todos.

No quadro desse programa, pretende-se disponibilizar serviços de saúde mais próximos do domicílio das gestantes e, desse modo, aumentar a o número de mulheres nas consultas pré-natal.

Na vertente do combate à pandemia, 2004 ficou ainda marcado pela abertura do Hospital Esperança, em Luanda - unidade especializada na testagem, tratamento e internamento de doentes portadores do HIV/Sida - e pela realização de um estudo nacional (dirigido a 13 mil mulheres), que fixou a taxa de prevalência da doença em 2,8 por cento.

Estima-se que 15 mil pessoas estejam infectadas em todo o país e um número reduzido destes tem acesso aos medicamentos e à informação segura. Daí a necessidade da extensão do projecto a outras regiões como forma de travar o avanço da doença e diminuir os gastos.

Apesar de ter dado um importante passo, o Programa Nacional de Luta contra a Sida enfrenta ainda sérios problemas para garantir sangue seguro durante as transfusões , devido à falta de bancos de sangue e condições laboratoriais para os testes.

A obtenção de resultados satisfatórios passa não apenas pela introdução de medicamentos, mas pela formação de quadros, aproximação dos serviços aos domicílios, melhoria da qualidade da informação, realização de estudos profundos sobre a situação do HIV e por um comportamento sério dos cidadãos em face da doença.

A melhoria das condições sócio-económicas e a aquisição de um banco de leite para suprir as dificuldades por que passam as mães infectadas para alimentar os filhos depois do tratamento, evitando a contaminação durante a amamentação, é também uma das preocupações do Minsa.

Estima-se que actualmente, em todo mundo, existam mais de quatro milhões de crianças a viver com o vírus e 8,2 milhões órfãs, devido à doença, sendo nove em cada dez vivendo na região Austral da qual Angola faz parte.

Por Vivalda Teófilo Chende

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