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Luanda, 02/10 - Angola acolhe, pela primeira vez na História da Comunidade de Desenvolvimento
da África Austral (SADC), a cimeira dos mais altos
mandatários dos países membros desta organização, cuja
abertura acontece hoje, no Palácio dos Congressos, em
Luanda, com a análise de questões de fundo deste fórum
regional.
Neste momento de paz em Angola, alcançada graças ao
empenho do Governo e do Chefe de Estado Angolano, José
Eduardo dos Santos, dedicação essa também direccionada em prol
da pacificação da região, é dever da SADC mobilizar-se para
que se operem as mudanças que os povos desse espaço territorial do
continente africano aspiram .
Desde a sua fundação, em 1980, a ideia central da integração
regional dos países membros foi sempre predominante, tendo como
projectos imediatos o combate à pobreza, doenças transmissíveis
tais como o SIDA e outras calamidades que afectam a zona austral
em particular e a África em geral.
Nesta assembleia magna cuja presidência rotativa cabe
desta vez à Angola, depois da África do Sul, num momento de
sossego tão procurado, a visão global da organização regional
tornar-se-á a busca de vias de consolidação de boa harmonia e de
conciliação nacional, regional, continental e mundial, bem como o
desenvolvimento vertical dos atributos inerentes.
A faixa da África Austral está confrontada com um certo
número de crises graves e com actos de violência, que os meios de
comunicação social denunciam todos os dias. Neste contexto, cabe à
SADC e também à comunidade internacional mobilizar vontades e
energias para que se operem as mudanças necessárias.
A paz deve ser a prioridade de todos os países membros e de
todo o continente africano, a fim de se acabar com os conflitos armados,
que não fazem senão hipotecar o futuro da juventude, das nações e
dos povos, alguns dos quais sujeitos à condições de vida degradantes e indignas.
Neste contexto, há algumas condições essenciais sobre as quais
convém exercer uma influência em comum: o diálogo, a
cooperação regional e o estabelecimento de um entendimento entre
os homens e povos, chamados a viver em conjunto sobre a mesma
terra, região; e, por outro lado, o fenómeno da mundialização e da
crescente oposição entre os países ricos e os pobres .
A paz, a longo termo, é a condição sine qua non para que
as nações menos desenvolvidas beneficiem do crescimento
económico e de ajudas apropriadas. A primeira perspectiva deve ser
a de sustentar as economias nacionais ou locais, regionais e formar
quadros que se ocuparão, amanhã, do futuro da sua comunidade,
para chegar a autonomia necessária do país. Isto pede, da parte de
todos, uma solidariedade cada vez maior e uma atitude coerente.
A África Austral necessita de paz e desenvolvimento harmonioso.
Ela necessita de um apoio resoluto da comunidade internacional não
somente para fazer calar as armas, mas também para combater as
causas profundas dos conflitos e instaurar uma paz duradoura na
região, eliminar a pobreza e doenças, atingir o apogeu e integrar o
espaço territorial na economia continental e mundial.
Nascida com o nome inicial de "Conferência de
Coordenação do Desenvolvimento da África Austral (SADCC)"
(1980), cujo objectivo principal visava o progresso económico dos
países membros (na altura Angola, Botswana, Lesotho,
Malawi, Moçambique, Swazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe),
um novo Estado, Namíbia, que alcançou a sua independência a 21
de Março de 1990, viria logo engrossar a organização.
Com as mudanças qualitativas operadas no quadro político
acrescidas dos desafios sócio-económicos na região austral, este
grupo transformou-se, com a integração de mais membros:
Ilhas Seyshelles, Ilhas Maurícias, República Democrática do Congo,
e África do Sul, na Comunidade para o Desenvolvimento da África
Austral "SADC" (1992).
Passo-a-passo, os seus filiados reconheceram de facto que o
desenvolvimento sustentável não deixava de lado a cultura
como veículo de transmissão dos valores de cada povo pelo que o
desenvolvimento económico assenta no relacionamento estabelecido
entre a sociedade e a atmosfera.
No âmbito social, a SADC visa essencialmente a
integração da dimensão cultural na concepção e implementação
dos sistemas de desenvolvimento sustentável, promoção de programas
regionais para a emancipação da mulher; cooperação entre os povos
e formação de quadros.
Outras transformações foram levadas a cabo tanto na vida
política como social, tendo originado outras formas de estar
dos povos. Estas mudanças são mais visíveis na educação cívica
das massas, e na cultura política das lideranças.
A substituição do regime político do partido único para
O multipartidárismo, com eleições livres, são provas palpáveis
das mudanças significativas operadas na cena política.
Em alguns casos, a democracia nos países membros da SADC tem como base fundamental de sustentação a ordenação sistemática e racional dos
Estados através de novas leis fundamentais ou seja de novas
constituições ou constituições revistas, preconizando a modernização
da ordem política e dos sistemas de governo com o fim de alcançar
a paz e manter a segurança quer na ordem interna quer na externa.
O desenvolvimento desejado tem como requisito inicial a
estabilidade interna sem a qual não haverá implementação de
quaisquer estratégias e projectos políticos.
Com encontros realizados em vários países, os membros
destacam a importância de criar novas estruturas paralelas no
domínio da energia, a criação de uma moeda única para os países
membros, no sentido de assegurar o desenvolvimento da região.
O processo de desenvolvimento destas tarefas será lento, mas
inevitável. Outra questão que os lideres da SADC não devem perder
de vista é a luta para impedir a violência contra a mulher,
garantindo a sua emancipação.
No caso específico de Angola, que acaba de sair de uma longa
guerra fratricida, a SADC está consciente quanto ao apoio multiforme
a conceder para consolidar o processo de paz, desminagem,
reintegração social dos refugiados e deslocados de guerra, bem como também outras questões pertinentes para fortalecer o processo de paz.
Por Zola Mbenga |