Retrospectiva 2004: Reactivação do Atlântico reaviva interesse pelo cinema
Por Moisés da Silva
Luanda, 06/01 - Oficialmente reaberto para sessões cinematográficas no dia 16 de
Janeiro de 2004, o Cine Atlântico, em Luanda, trouxe uma outra dinâmica para a diversão luandense e mesmo nacional, visto que tem "ajudado" os angolanos a reviver o gosto pelo cinema e, de certo modo, contribuir para o aumento dos espaços culturais em Angola.
Há que "tirar o chapéu" ao Atlântico por ter passado também películas angolanas, registando lotação esgotada, sobretudo para o filme Na Cidade Vazia, de Maria João Ganga, a nove de Julho deste ano e o Comboio da Canhoca, do realizador Orlando Fortunato, para celebrar o dia
do Herói Nacional, 17 de Setembro).
A sua dinâmica acentua-se, principalmente, no facto de ter reaberto as portas para o cinema no país, exibindo regularmente filmes, bem como acolher actividades culturais, sobretudo, espectáculos musicais e galas de premiação.
Desde a sua reactivação, o Cine Atlântico tem contribuído no desenvolvimento e concretização de certas actividades em parceria com o Ministério da Cultura, promotoras de espectáculo, ong, igrejas e outras associações, além de reunir constantemente pessoas dos nove municípios de
Luanda ou mesmo das 18 províncias de Angola.
Entre as diversas actividades, a sala acolheu no mês de Dezembro de 2003, a realização do primeiro festival de rap angolano, denominado "The Best Angola Hip Hop" e a eleição da Miss Angola 2004, bem como o espectáculo musical promovido pelo Projecto Criança Futuro, no dia sete de Fevereiro de 2004.
O Cine Atlântico, ex-Império, foi ainda palco do concurso musical "Variante", decorrido de um a quatro de Novembro e da gala de premiação dos vencedores do "Top dos Mais Queridos", promovido pela Rádio Nacional de Angola (RNA) no dia cinco de Dezembro, deste ano. >br>
Para confirmar o seu contributo no aumento dos patrimónios culturais de Luanda, senão de Angola, o Cine Atlântico mais uma vez esteve disponível para o acolhimento da gala Miss Angola 2005, no dia 17 do ano em curso.
No que tange ao cinema, o Atlâtico tem devolvido os antigos hábitos e costumes da
população angolana que tinha nesta arte como opção primária nos momentos de lazer, isto nas décadas de 70 e 80, onde cerca de 21 salas de exibição de filmes no activo.
O dia 16 de Janeiro marcou a primeira exibição de filme no Atlântico, que durante este ano exibiu no total 37 películas, dentre elas "Pirata das Caraibas", "Socorro Sou Um Peixe", "Um Golpe Em Itália", "A Casa Assombrada", "Peter Pan Em a Terra do Nunca", "Guarda Fraldas", "Underworld - Submundo", "O Heroi" e "O Dia Depois de Amanhã".
Com uma sala quase sempre lotada, o Atlântico, que veio assim tirar a "vergonha" do país em termos de cinema, passou ainda os filmes "Refém", "O Talismam", "Espião Acidental", "O Senhor dos Anéis - O Regresso dos Reis", "Romance Arriscado", "Pirata das Caraíbas", "A Maldição do Pérola Negra", "Pianista", "Rei Artur", "Resgate no Tempo", "Sorriso de Monalisa", "O Monstro", "Freddy contra Janson", entre outros.
Disposta a "levar ao derrube" o Cine Karl Marx, o Atlântico soube e tem sabido explorar as obras cinematogréficas que fizeram e estão a fazer sucesso a nível internacional. Como exemplo, o filme do realizador e actor norte-americano Mel Gibson, "A Paixão de Cristo", que mereceu a atenção do mundo inteiro, embora com crítica variada.
Ao passar as películas com maiores sucessos no mundo, este espaço cultural, passou a "roubar" toda a clientela do Cine Karl Marx, que agora só se ouve falar quando acolhe um espectáculo musical e, por outro lado, por causa do seu restaurante, o Danadão Point.
Todavia, o Karl Marx continua a apresentar filmes, mas irregularmente, pois tem como prioridade o acolhimento de espectáculos músico-culturais, admitindo ter sido ultrapassado pelo Atlântico, cuja regularidade é notória com a exibição de películas de Segunda-feira a Domingo.
A existência de apenas duas salas de exibição de filmes em Luanda mostra um certo retrocesso, uma vez que a província de Luanda é das 18 de Angola que desde a sua independência, a 11 de Novembro de 1975, tinha maior número cinemas (21), embora a do Bengo, na altura, não possuísse qualquer cine, segundo dados do Instituto Angolano do Cinema Audiovisual e Multimédia
(IACAM).
Os Cine São João, Karl Marx (Ex Avis), Miramar, Kilumba, N`gola, Nacional, Primeiro de Maio, São Paulo, África, Popular, Tropical, Corimba (ex Tivoli), Restauração, Estúdios (os dois, hoje Palácio dos Congressos) Cazenga (ex-Liz), Loanda, Colonial e os Alfas 1 e 2 são, entre outros, aqueles com os quais a capital contava, mas dada a sua degradação orginada por
más políticas de cinema e pela invasão do "vídeo tape" nos domicílios faliram.
No geral, Angola tinha aproximadamente 51 salas de exibição, contando com sete em Benguela, duas na Huíla, três no Huambo, duas em Cabinda, três no três no Namibe, o mesmo número no Uíge, duas
em Malanje, duas no Bié, três no Kwanza-Norte, o mesmo número no Kwanza-Sul, e uma cada, para as província da Lunda-Sul e Lunda-Norte, Kuando Kubango, Moxico e Zaire.
Reinaugurado em Dezembro de 2003, o Cine Atlântico, cuja capacidade é de 1500 pessoas, esteve no inactivo cerca de dois anos, apresentado agora filmes provenientes da "LNK" e da
"Lusomundo".
Independentemente de estar agora sob a égide do grupo Chamavo, o Cine Atlântico tem sido uma mais valia para o cinema em Angola, proporcionando noites cinematográficas aos natos desta pátria e aos provenientes de outros países africanos, da Europa, América e Ásia.
Assim se pode concluir, por um lado, que as portas para o cinema no país começam a reabrir-se, uma vez que já se conta com duas salas no activo e mais duas que serão brevemente reactivadas, designadamente os Cine São Paulo e o Corimba, embora abram um precedente ao monopólio do grupo Chamavo que os vais gerir.
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