Retrospectiva 2004: Desporto para deficientes marca Angola e o mundo
Foto Angop/Arquivo |
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Momenttos de preparação para o início de uma actividade desportiva para deficientes físicos |
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Por: Marcelino Camões
Luanda, 05/01 - O desporto é um meio importante para a promoção da integração social, já que por esta via, cultivam-se hábitos de boa conduta, o respeito pelo próximo, a auto-estima, a solidariedade e, sobretudo, a amizade entre os povos.
Em Angola, a importância deste fenómeno social tem encorajado o Governo a reformular a política desportiva, adaptando novas estratégias de desenvolvimento, cujas principais linhas de força são a generalização desportiva e a alta competição.
Nesta perspectiva, o ano de 2004 foi marcado pela introdução de um fenómeno novo no âmbito da alta competição. O desporto para deficientes, que rivalizou em termos de resultados positivos com o futebol, em véspera de apurar-se para o africano em 2006 no Egipto e Mundial no mesmo ano na Alemanha, o andebol feminino (Petro de Luanda) e basquetebol masculino (1º de Agosto), que triunfaram a nível de clubes.
Longe de constituir "tabú" na sua abordagem como há pouco menos de três anos, o desporto para portadores de deficiências em Angola assumiu um elevado grau de popularidade, mercê das três medalhas de ouro obtidas na 12ª edição dos Jogos Paralímpicos, disputados em Setembro na Grécia, por José Sayovo.
Além de ter arrebatado o ouro nos 100m, com 11.37, 200m (23.04) e 400m (50:03), o atleta, deficiente visual, bateu igualmente os respectivos recordes mundiais e paralímpicos, estabelecendo uma nova ordem no mundo do atletismo adaptado.
Este feito produziu júbilo generalizado e quebrou barreiras, numa sociedade em que o deficiente era visto como inapto, julgado pela condição física e não pela sua capacidade mental e/ou intelectual.
Hoje, esse desporto já ` referenciado com respeito, o atleta deficiente é encarado pela sociedade como um verdadeiro "operário", capaz de realizar tarefas úteis.
Apesar do reconhecimento ter-se generalizado somente em 2004, por culpa do triplo ouro em Atenas, os feitos dos paralímpicos remontam de 1998 com a conquista da medalha de prata, por equipas, no Mundial de corta mato, em Portugal.
Estavam então lançadas as premissas para novas vitórias. Em 1999, nos Jogos Panafricanos decorridos em Joanesburgo, África do Sul, os atletas deficientes salvaram a honra dos angolanos ao serem os únicos a conquistar medalhas de ouro para o país, por João Águiar (duas) e Irene Bandeira (uma), as três na modalidade de natação.
Os paralímpicos protagonizaram ainda outros feitos como a conquista de 11 medalhas das quais quatro de ouro, cinco de prata e duas de bronze no Africano do Egipto, em 2001, e no Mundial em Quebec/2003, Canadá, em que Sayovo venceu o ouro e bateu o recorde nos 400m com o tempo
de 51.29.
Fruto da elevada "safra", tanto a nível do aumento de praticantes como de obtenção de resultados em provas internacionais, o desporto adaptado foi enquadrado na linha de prioridade do Governo de Angola, no âmbito de uma política de desenvolvimento desportivo até 2010.
A construção de infra-estruturas, massificação, formação de técnicos e de dirigentes figuram entre as acções perspectivadas para 2005.
Em termos de reconhecimento dos resultados alcançados em 10 anos de existência do Comité Paralímpico Angolano (CPA), o estado instituiu em 2004 a Taça "José Sayovo", a disputar-se todos os anos por ocasião do dia consagrado aos desportistas nacionais, que se assinala a 23 de Janeiro.
A primeira edição disputa-se já em Janeiro de 2005.
Sayovo, 31 anos, torna-se, no momento, o único atleta do país homenageado com tão elevada importância. O falecido dirigente desportivo, por coincidência igualmente do atletismo, Demósthenes de Almeida Clinton havia sido reconhecido com a atribuição do seu nome à tradicional corrida de fim-de-ano, mas em 2002 a prova anual passou à denominação inicial de 1954. Ou seja "São Silvestre".
Por outro lado, o presidente do CPA, Leonel da Rocha Pinto, afirmou que a atribuição do nome de José Sayovo Armando a uma prova pedestre nacional encoraja os dirigentes da instituição para novos desafios.
Para si, 2004 foi o ano da coroação de um trabalho árduo de longo tempo, numa caminhada que considera estar ainda ao meio: "Temos muitos desafios pela frente, entre eles a conclusão da reabilitação da nossa sede social, localizada dentro do Complexo da Cidadela Desportiva, em
Luanda".
Indicou que o reconhecimento do Governo e da sociedade, em geral, sobre a prática do desporto adpatado de alta competição um tónico reconfortante e encorajador para os desafios que se avizinham com destaque para os próximos Jogos Paralímpicos em 2008 em Pequim, China, onde a grande aposta será a defesa das três medalhas de ouro e igual número de recordes dos 100, 200 e 400 metros em atletismo (classe b1 em masculino).
"Precisamos expandir o desporto adaptado em todo o país, massificar e encontrar formas de desenvolvê-lo cada vez mais para que em 2008 possamos ir aos Jogos Paralímpicos e lutar por maior número de medalhas", disse, acrescentando que isso será possível com o habitual apoio do Estado e da sociedade.
O CPA movimenta mais de 1.500 atletas espalhados em várias províncias de Angola, nas modalidades de atletismo, natação, futebol e futebol de salão. Para este ano, prevê-se o lançamento do voleibol em pé e sentado e do ténis de mesa.
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