Luanda - Segunda-feira, 10 de Janeiro de 2005 - 01:59 ANGOLA | ANGOP | PESQUISA | FALE CONNOSCO   
Primeira página | Política | Economia | Social | Desporto | Cultura | África | Internacional | Especiais
Retrospectiva 2004: Rádio Nacional na vanguarda da música angolana

Por: Venceslau Mateus

Luanda, 26/12 - Vinte e nove anos depois da independência, a música angolana produzida nas décadas de 40, 50, 60 e 70 voltou à ribalta no decurso de 2004, fruto da determinação e empenho dos profissionais da Rádio Nacional de Angola (RNA), que através do seu programa Caldo do Poeira não mediram esforços e deram aos apreciadores dos ritmos nacionais a oportunidade de reviver ao gosto do bom som de Angola.

Depois de longos anos votada ao abandono ou ao esquecimento, a RNA e o Centro Cultural Recreativo Kilamba uniram esforços e num ápice juntaram o útil ao agradável: levar os kotas e os jovens a reviver e conviver com ritmos que mexeram e continuam a mexer com os angolanos nas pistas de dança do país, dando mostras de que apesar de "velha", ela ainda é uma referência no music hall angolano.

Não sendo o seu principal objecto social, a RNA deu, desta forma, o seu contributo na luta pela recuperação dos valores culturais do país. Os custos de produção de cada edição do Caldo do Poeira, incluindo o pagamento aos músicos convidados, material de trabalho e outros serviços, estão avaliados em aproximadamente 50 mil dólares.

Aqui, regista-se o esforço da RNA, que de uma empresa de utilidade pública passou igualmente a assumir o papel de incentivador e força motriz na luta pela preservação do mosaico cultural do país, pois, só assim se entende que mesmo apesar dos problemas vividos ainda se desdobra em outras vertentes.

Apesar de não se conhecer os valores gastos este ano pelo Kilamba, o parceiro da RNA nesta luta na compra da alimentação e bebidas, reconhece-se ter sido feito um esforço gigante para garantir aos usuários da casa um serviço de qualidade.

Nem mesmo o elevado preço que resultou na organização do evento ao longo do ano, obrigou tanto a RNA como o Kilamba a recuarem na intenção, num esforço suplementar e com a ajuda de alguns patrocinadores foi dada a cada apreciador da música angolana a oportunidade de imaginar em algum centro recreativo nos anos 40, 50, 60, 70 ou 80, numa autêntica luta contra o desaparecimento da memória musical dos angolanos.

A iniciativa, que deveria ter saído dos "laboratórios" de instituições vocacionadas a divulgação, valorização e projecção da cultura de Angola, trouxe de volta os bons "velhos" tempos dos centros recreativos do país, em geral e, em particular da capital angolana.

Esta empreitada tem o seu valor redobrado por ter permitido igualmente aos mais velhos recordarem as noites no Marítimo da Ilha, Mãe Preta, Maria da Escrequenha (actual Kilamba), Desportivo de São Paulo, Maxide e outros que se tornaram, na altura, nos centros de reencontro dos angolanos aos fins de semana.

Nunca, em 29 anos de independência, os angolanos viram ou viveram um movimento tão intenso e bem sucedido direccionado a divulgação dos ritmos produzidos e tocados por David Zé, Urbano de Castro e Artur Nunes, já falecidos, Bonga, Paulino Pinheiro, Elias Dya Kimuezo, Ngola Ritmos, Negoleiros do Ritmo, Os Bongos e tantos outros artistas e grupos que em plena ocupação colonial encontraram na música a arma para lutar contra os opressores.

Se a intenção era recuperar o que de melhor se produziu musicalmente em Angola, os organizadores conseguiram ganhar a batalha, pois, a prova dos factos foi confirmada com a avalanche de pessoas que se deslocaram este ano ao Kilamba, o local escolhido para a "peregrinação" dos últimos domingos de cada mês para ver e ouvir ao vivo a música e os ídolos de sempre a exibirem-se num palco criado para o efeito.

Embalados na onda dos organizadores, o público não se fez rogado e em jeito de concordância com a iniciativa, marcaram presença em massa no Kilamba ou em outro centro cultural do país, onde em cada último domingo do mês "brigaram" por um lugar estratégico de forma a poderem ver e ouvir melhor a exibição dos convidados/homenageados do dia à boa maneira angolana.

Em Luanda, cada edição do caldo cerca de quatro centenas de convivas deslocam-se ao Kilamba, para desfrutarem de quatro horas de caldos preparados com garoupa, farinha musseque, feijão de óleo de palma, peixe carapau frito, mandioca e banana pão fervida, quitutes preparados ao requinte e ao gosto do angolano e acompanhados de marcas de vinhos de adegas famosas portuguesas, de marcas de cerveja e refrigerantes nacionais, sem esquecer a boa música.

Dos nove programas realizados em Luanda, em 2004 destaca-se o Caldo de homenagem a Barceló de Carvalho (Bonga), ocorrido em Setembro por ter arrastado ao local aproximadamente 600 pessoas.

Movidos pela intenção de ouvir, por exemplo, Gaby Moy cantar temas do seu falecido irmão David Zé exigiu dos frequentadores do espaço, um esforço financeiro suplementar, já que o ingresso estava cotado ao equivalente em Kwanzas a 30 dólares, bem como obrigados a chegar cedo (sete horas) ao local para melhor se posicionarem.

Mas, para os espectadores parece ter valido a pena o sacrifício, pois para recordar o passado da música angolana não importava se ficavam em longas filas que se registaram à porta do Kilamba ou os empurrões, muitas vezes causados pelo porteiro de serviço, que de forma autoritária não olhava a meios, nem a quem para levar a cabo o seu trabalho.

A RNA e o Kilamba estão de parabéns pela iniciativa, pois num ápice conseguiram recuperar os ritmos nacionais de raiz e consequentemente levaram o público a relembrar temas do cancioneiro angolano que o tempo não conseguiu apagar.

A par de Luanda, a RNA levou igualmente o caldo as províncias de Cabinda, Benguela, Namibe e Bengo, esta última que teve o privilégio de receber o programa por duas ocasiões.

Ainda a propósito da promoção e divulgação da música angolana, apesar de se tratar de um evento em que se reconhece o desempenho dos criadores da actualidade, deve-se igualmente parabenizar a Luanda Antena Comercial (LAC), pelo trabalho que vem desenvolvendo nos últimos sete anos, com a realização do festival da canção de Luanda.

Ano após ano a LAC vem dando aos músicos e compositores a oportunidade de colocarem em evidência os seus dotes de escritores, premiando os melhores como forma de incentivar a continuidade desta luta em prol da cultura angolana, em particular da música.

Primeira página | Política | Economia | Social | Desporto | Cultura | África | Internacional | Especiais | 24 sobre 24
© 1996-2003 Angop. Todos os direitos reservados.
00:15 - Agenda noticiosa nacional
00:12 - Síntese das principais notícias das últimas 24 horas
20:17 - Padres franciscanos nacionais trocam experiências com Italianos
20:11 - Futebol:Can sub17 / Será muito difícil vencer a Nigéria em casa - diz Joaquim Dinis
19:55 - Futebol: Selecção compromete terceira participação no CAN Sub-17
18:11 - Morreu presidente do Partido para Unidade Democrática
18:06 - Futebol/Sub-17: Angola perde por 1-3 para a Nigéria
17:45 - Presidente da República envia mensagem a Laurent Gbagbo
17:27 - Kwanza-Sul: Polícia Nacional balanceia actividade operativa em 2004
17:12 - Lunda-Sul: General Pedro Neto almeja modernização da Força Aérea
16:58 - Futebol/Sub-17: Nigéria faz 2-1 no Estádio da Cidadela