Luanda - Sexta-feira, 16 de Janeiro de 2004 - 15:51 ANGOLA | ANGOP | PESQUISA | FALE CONNOSCO   
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Literatura angolana caminha para novos rumos

Foto Angop
Pormenor de uma biblióteca na cidade de Luanda

Luanda, 27/12 - Com uma média de duas obras semanais, o sector do livro no país continua a manter a tendência de desenvolvimento que se tem registado nos últimos três anos, tanto em qualidade como em quantidade.

Com apenas quatro editoras, nomeadamente, Chá de Caxinde, Nzila, Kilombelombe e União dos Escritores Angolanos (UEA), o mercado livreiro tem-se mostrado dinâmico, devido a acção destas, que têm encontrado em Luanda o seu principal público.

Contudo, também tem sido notório o surgimento e a incessante procura de novas formas para aumentar o círculo de leitores no país e, consequentemente, o desenvolvimento de todas as áreas ligadas a este ramo.

No que toca a UEA, apesar de este ano estar alguns degraus abaixo das restantes editoras, não se poderá afirmar que 2003 foi negativo, pelo facto de ter sido reconhecida pelo Estado como instituição de interesse público, sendo esta igualmente uma consequência do trabalho realizado até agora.

Por outro lado, o facto de ter conseguido, com alguma regularidade e rigor, a manutenção das actividades ligadas à promoção do livro, análise do trabalho de autores nacionais e as perspectivas do mercado, trazidas a público por oradores que alimentaram a "Maka à Quarta-feira".

A criação de uma comissão de leitura encarregue da análise das obras literárias que estiverem ou estejam a seu cargo, bem como o desenvolvimento de trabalhos preliminares com vista a criação de um círculo de leitores são também aspectos positivos que tiveram realce este ano.

Nesta senda, podemos observar igualmente a editora Chá de Caxinde que se propõe realizar do mesmo modo círculos de leitores nos próximos tempos, como é realçado várias vezes pelos seus responsáveis, visando uma maior aproximação entre os autores que têm a chancela desta e o público.

Além do número de obras que tem aumentado, a diversificação dos géneros literários tem sido uma realidade, mas continua ainda a existir uma maior relevância para a poesia, que este ano viu sair várias obras de qualidade com destaque para os escritores António Cardoso, em "Poemas de Circunstância", e João Tala, em "A forma dos Desejos II".

Torna-se necessário, porém, a inversão desta perspectiva com a criação de maiores incentivos para que os escritores possam dedicar-se fundamentalmente à escrita e investigação, o que poderia ser atingido com as Bolsas de Criação, ainda inexistentes.

A falta de criação destes instrumentos faz com que este quadro se mantenha por longos períodos.

No corrente ano, marcado também pelo ressurgimento de obras infantis, embora em número reduzido, foi possível com trabalho de escritores como Gabriela Antunes, Dario de Melo, Cremilda de Lima, John Bela ou ainda Arnaldo Santos para não citar outros.

Pela importância que a linguagem tem no desenvolvimento da criança e, consequentemente da sociedade, a literatura, no caso a infantil, joga um papel de extrema importância para a evolução de qualquer país.

Em 2003, também merece uma nota positiva o surgimento de um número aceitável de obras de investigação, nos mais variados domínios, como o das ciências sociais e humanas, onde Edmundo Rocha, Adriano Parreira, Francisco Xavier Yambo e Maria do Carmo Medina foram só alguns dos impulsionadores de trabalhos.

As suas obras são "Angola, Contribuição ao Estudo do Nacionalismo Angolano" (trabalho galardoado com o Prémio Nacional de Literatura na disciplina de Literatura), "Cronologia e Efemérides da História de Angola", "Dicionário Antroponímico Umbundu","Angola, processos políticos e luta pela independência", respectivamente.

Deste modo, poderá ser encontrado excelente material para o estudo da realidade sócio-cultural angolana. Porém, é nesta área que a falta de incentivo se faz sentir com maior evidência, embora considera-se a produção de 2003 bastante aceitável.

Embora reconheça que o esforço desenvolvido pelas pessoas ligadas ao livro seja grande e apesar de surgirem várias obras, os programas e currículos escolares, bem como os encarregados de educação não tem jogado o papel que lhes cabe, de impulsionadores.

A aliar-se a isso está a falta de um marketing ligado ao livro e a busca permanente de novos caminhos para o sector que teriam de ser acompanhados de uma redução dos custos de edição das obras no país.

Desta forma será cada vez maior o número de leitores e os incentivos para que desde cedo a criança esteja habituada a literatura, criando-se as bases para que a médio prazo o desenvolvimento almejado seja efectivo.

Por Pedro Cardoso

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