Literatura angolana caminha para novos rumos
Foto Angop |
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Pormenor de uma biblióteca na cidade de Luanda |
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Luanda, 27/12 - Com uma média de duas obras
semanais, o sector do livro no país continua a manter a
tendência de desenvolvimento que se tem registado nos últimos
três anos, tanto em qualidade como em quantidade.
Com apenas quatro editoras, nomeadamente, Chá de
Caxinde, Nzila, Kilombelombe e União dos Escritores Angolanos
(UEA), o mercado livreiro tem-se mostrado dinâmico, devido a
acção destas, que têm encontrado em Luanda o seu principal
público.
Contudo, também tem sido notório o surgimento e a
incessante procura de novas formas para aumentar o círculo de
leitores no país e, consequentemente, o desenvolvimento de
todas as áreas ligadas a este ramo.
No que toca a UEA, apesar de este ano estar alguns degraus
abaixo das restantes editoras, não se poderá afirmar que 2003 foi
negativo, pelo facto de ter sido reconhecida pelo
Estado como instituição de interesse público, sendo esta
igualmente uma consequência do trabalho realizado até agora.
Por outro lado, o facto de ter conseguido, com alguma
regularidade e rigor, a manutenção das actividades ligadas à
promoção do livro, análise do trabalho de autores nacionais e as
perspectivas do mercado, trazidas a público por oradores que
alimentaram a "Maka à Quarta-feira".
A criação de uma comissão de leitura encarregue da análise
das obras literárias que estiverem ou estejam a seu cargo, bem
como o desenvolvimento de trabalhos preliminares com vista a
criação de um círculo de leitores são também aspectos positivos
que tiveram realce este ano.
Nesta senda, podemos observar igualmente a editora Chá de
Caxinde que se propõe realizar do mesmo modo círculos de
leitores nos próximos tempos, como é realçado várias vezes
pelos seus responsáveis, visando uma maior aproximação entre os
autores que têm a chancela desta e o público.
Além do número de obras que tem aumentado, a
diversificação dos géneros literários tem sido uma realidade, mas
continua ainda a existir uma maior relevância para a poesia, que
este ano viu sair várias obras de qualidade com destaque para os
escritores António Cardoso, em "Poemas de Circunstância", e
João Tala, em "A forma dos Desejos II".
Torna-se necessário, porém, a inversão desta perspectiva
com a criação de maiores incentivos para que os escritores
possam dedicar-se fundamentalmente à escrita e investigação, o
que poderia ser atingido com as Bolsas de Criação, ainda
inexistentes.
A falta de criação destes instrumentos faz com que este
quadro se mantenha por longos períodos.
No corrente ano, marcado também pelo ressurgimento de
obras infantis, embora em número reduzido, foi possível com
trabalho de escritores como Gabriela Antunes, Dario de Melo,
Cremilda de Lima, John Bela ou ainda Arnaldo Santos para não
citar outros.
Pela importância que a linguagem tem no desenvolvimento
da criança e, consequentemente da sociedade, a literatura, no
caso a infantil, joga um papel de extrema importância para a
evolução de qualquer país.
Em 2003, também merece uma nota positiva o surgimento
de um número aceitável de obras de investigação, nos mais
variados domínios, como o das ciências sociais e humanas,
onde Edmundo Rocha, Adriano Parreira, Francisco Xavier
Yambo e Maria do Carmo Medina foram só alguns dos
impulsionadores de trabalhos.
As suas obras são "Angola, Contribuição ao Estudo do
Nacionalismo Angolano" (trabalho galardoado com o Prémio Nacional
de Literatura na disciplina de Literatura), "Cronologia e
Efemérides da História de Angola", "Dicionário Antroponímico
Umbundu","Angola, processos políticos e luta pela independência",
respectivamente.
Deste modo, poderá ser encontrado excelente material para o
estudo da realidade sócio-cultural angolana. Porém, é nesta área
que a falta de incentivo se faz sentir com maior evidência, embora
considera-se a produção de 2003 bastante aceitável.
Embora reconheça que o esforço desenvolvido pelas pessoas
ligadas ao livro seja grande e apesar de surgirem várias obras, os
programas e currículos escolares, bem como os encarregados de
educação não tem jogado o papel que lhes cabe, de
impulsionadores.
A aliar-se a isso está a falta de um marketing ligado ao livro e
a busca permanente de novos caminhos para o sector que teriam
de ser acompanhados de uma redução dos custos de edição das
obras no país.
Desta forma será cada vez maior o número de leitores e os
incentivos para que desde cedo a criança esteja habituada a
literatura, criando-se as bases para que a médio prazo o
desenvolvimento almejado seja efectivo.
Por Pedro Cardoso
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