Luanda - Sexta-feira, 14 de Janeiro de 2005 - 04:24 ANGOLA | ANGOP | PESQUISA | FALE CONNOSCO   
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***Governo de Unidade e Reconciliação Nacional

P - Qual é a avaliação que o senhor faz desta cobrança de alguns órgãos privados na generalidade sobre as acções do Governo?

R - Durante dez anos, isto é, desde que em 1992 a guerra foi recomeçada, o GURN viu-se confrontado com uma situação em que, por um lado, era necessário salvaguardar a democracia e, por outro, acabar com uma guerra devastadora, que perigava a unidade e a soberania de Angola. Esse era o seu dever, essa era a sua responsabilidade. Graças a Deus, embora com imensos sacrifícios para o nosso Povo e com muito dinheiro gasto em detrimento do nosso desenvolvimento, esses dois objectivos foram atingidos: Angola continua a ser um país unido e democrático politicamente estável, e a Paz e a reconciliação nacional instalaram-se definitivamente no seu seio.

P - Em todo este processo qual tem sido o papel do Presidente da República, José Eduardo dos Santos?

R - Em todo este processo a figura do Presidente José Eduardo dos Santos é incontornável, pois foi ele quem tornou possível a paz e a reconciliação. Graças à sua qualidade de verdadeiro homem de estado, ele conseguiu resistir a todas as pressões internas e externas sobre si exercidas, e colocar-se acima do detalhe, focalizando exclusivamente os interesses supremos da Nação. No seio do GURN e fora dele, o Presidente da República, respeitando as instituições e os órgãos de soberania, adequou a política do Governo e os seus programas á complexidade da conjuntura político-militar que o país vivia. Mas o que se vê é que o país está destruído. Devemos reconhecer que os dez últimos anos de guerra que o país atravessou, destruíram-no gravemente e em grande parte. Na maioria das capitais de Província, excluindo as costeiras, todas as fábricas foram destruídas, os edifícios públicos, incluindo hospitais e escolas, os estabelecimentos comerciais e residências privadas foram danificados por projécteis de todo o género ou pura e simplesmente dinamitados, os sistemas de distribuição de energia e de água foram destruídos; os meios técnicos e rolantes foram destroçados.

P - É obvio que Luanda sofreu com o crescimento demográfico e nas outras províncias quais foram os reais prejuízos?

R - No interior dessas mesmas províncias, vilas inteiras foram arrasadas e centenas de aldeias foram incendiadas. As estradas, além de cortadas por imensas ravinas por não poderem ter sido assistidas, viram suas pontes também demolidas; os campos que as populações cultivavam, foram minados; pequenas barragens destinadas à irrigação foram demolidas; as linhas férreas, incluindo pontes, foram destruídas, as pistas de aviação foram danificadas, etc., etc. No que respeita às populações, milhões de angolanos viram-se forçados a abandonarem as suas terras para se concentrarem nas cidades cercadas, em busca da protecção do Governo. Sem casas e sem alimentação adequada e muitas vezes sem medicamentos, viviam em cabanas e em tendas como refugiados na sua própria terra. O desemprego aumentou exponencialmente. O crescimento brusco das cidades não foi acompanhado pela construção das necessárias infra-estruturas e serviços; as redes de abastecimento foram ultrapassadas e desapareceram e o abastecimento das populações deslocadas só podia ser feito por via aérea e por isso era caríssimo e insuficiente; as escolas deixaram de comportar o número subitamente aumentado de crianças vindas do interior, a separação das famílias (pais para um lado mães para outro e filhos perdidos) e a miséria, provocaram o aumento da prostituição e da delinquência; o número de amputados vítimas de minas e outros engenhos nessas cidades também aumentou vertiginosamente. Tudo isso sem falar das gravíssimas consequências psicológicas e psíquicas, políticas, culturais e administrativas, que toda essa movimentação causava no seio do nosso Povo.

P - Esse quadro nós sabemos que existe, basta sairmos às ruas. O que de concreto está a ser feito para mudar estar situação?

R - Não podemos nos esquecer que era esse o quadro que Angola apresentava em 22 de Fevereiro de 2002, e que o GURN é chamado a modificar com o empenho de todo o Povo. Contudo, apesar dessa situação o país nunca parou. Houve alturas de expectativa e de incerteza, mas nunca de desespero ou de pânico. A guerra pela Paz tornara-se a grande prioridade e tinham então de ser congelados grande parte dos projectos e programas do GURN e dirigidos os recursos para a defesa, sob os protestos, quantas vezes insultuosos, de rádios, jornais e alguns membros da sociedade civil menos esclarecidos, e as acusações gratuitas de ong`s internacionais e nacionais que pareciam desejar o infortúnio do nosso Povo. A outra grande prioridade era a assistência multiforme às populações cercadas.

P - Senhor ministro ocorreram mudanças também no campo político?

R - No campo político, foram feitos um esforço grande e a ginástica institucional necessária pelos órgãos de soberania do país no sentido de se evitar o descarrilamento do processo de paz, por um lado, e de se preservar a democracia, por outro.

P - Como é que ficou a relação entre o nosso país e a comunidade internacional?

R - No domínio diplomático, foi necessário empreender iniciativas ousadas e muitas vezes delicadas junto da Comunidade Internacional na busca de meios financeiros e logísticos para alimentar o nosso sistema e fazer face às necessidades criadas pela guerra. Tais esforços nunca deram os resultados esperados em virtude de serem torpedeados não só por inimigos externos de Angola como também por adversários internos do Governo que viam na ajuda internacional a Angola, uma vitória sobre a rebelião armada. Também fomos forçados a participar no esforço de estabilização da região, factor essencial para a segurança do nosso próprio país.

P - O que está a ser feito para que a sociedade possa sentir os efeitos da transição guerra-paz?

R - Hoje, Angola vive uma situação diferente. A guerra acabou, o Povo respira a paz e quase todos, graças a Deus, tendo já esquecido esse passado tão violento, empenham-se com grande e profunda consciência no processo de reconciliação nacional. A comunidade Internacional está mais receptiva ás nossas posições e acreditamos que a situação vai melhorar. Enquanto se melhora a legislação de forma a reforçar as instituições, consolidar a democracia e a transparência na governação, a urgência do momento é a reconstrução nacional, para o desenvolvimento do nosso país e para a erradicação da pobreza do seu seio e é nisso que o Governo está profundamente empenhado.

P - Senhor ministro, acredita que foram reunidas todas as condições para isso?

R - Ora, esse desiderato passa em primeiro lugar pela reposição da autoridade administrativa do Estado em toda a extensão do país, a assistência às populações deslocadas e aos ex-militares da UNITA que se encontram nos centros de acolhimento, e a preparação de condições para o seu regresso às áreas de origem. Muitos desses deslocados viviam em matas quase intransponíveis, expostos á nudez, ás intempéries e a todo o tipo de doenças, caminhando a pé centenas de quilómetros assolados pelo cansaço e pela fome, e chegaram a esses centros desprovidos de tudo e num estado de saúde grave muitas vezes terminal. Daí ter o GURN, numa operação de emergência, disponibilizado do OGE tão logo começaram a chegar os primeiros aos centros em questão, avultadas mas ainda insuficientes verbas ( 120 milhões de dólares para começar) para sua assistência. Esse esforço prossegue até hoje e deverá continuar por algum tempo.

P - O senhor ministro, que diz então sobre as críticas que são feitas por algumas individualidades e até mesmo através da imprensa?

R - É lamentável que alguns órgãos de informação e algumas individualidades que se querem idóneas, procurem hoje, no intuito visível de manipularem as populações, dar a entender que o Governo pouco ou nada tem feito para assistir as pessoas deslocadas e reconstruir o que a guerra destruiu. Por outras palavras exigem que o Governo reconstrua em apenas dez meses, que é o tempo que nos separa desde o advento da paz, o que foi sendo destruído durante 26 anos. Só objectivos políticos desonestos podem justificar tal atitude. O GURN continuará a implementar o seu programa para a reconciliação nacional e reconstrução do país rumo ao desenvolvimento e a erradicação da pobreza.

P - Senhor ministro, o que é que vai nortear as actividades do governo nesta nova empreitada?

R - Tão grande tarefa será levada a efeito de mãos dadas com todos os angolanos de boa fé, capazes de colocar Angola acima dos seus interesses particulares, independentemente da sua filiação partidária, crença religiosa ou posição social. >>>SEGUE

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