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***Governo de Unidade e Reconciliação Nacional
P - Qual é a avaliação que o senhor faz desta cobrança de alguns
órgãos privados na generalidade sobre as acções do Governo?
R - Durante dez anos, isto é, desde que em 1992 a guerra foi recomeçada,
o GURN viu-se confrontado com uma situação em que, por um lado, era
necessário salvaguardar a democracia e, por outro, acabar com uma guerra
devastadora, que perigava a unidade e a soberania de Angola. Esse era o
seu dever, essa era a sua responsabilidade. Graças a Deus, embora com
imensos sacrifícios para o nosso Povo e com muito dinheiro gasto em
detrimento do nosso desenvolvimento, esses dois objectivos foram atingidos:
Angola continua a ser um país unido e democrático politicamente estável, e
a Paz e a reconciliação nacional instalaram-se definitivamente no seu seio.
P - Em todo este processo qual tem sido o papel do Presidente da República,
José Eduardo dos Santos?
R - Em todo este processo a figura do Presidente José Eduardo dos Santos
é incontornável, pois foi ele quem tornou possível a paz e a reconciliação.
Graças à sua qualidade de verdadeiro homem de estado, ele conseguiu
resistir a todas as pressões internas e externas sobre si exercidas, e
colocar-se acima do detalhe, focalizando exclusivamente os interesses
supremos da Nação. No seio do GURN e fora dele, o Presidente da República,
respeitando as instituições e os órgãos de soberania, adequou a política do
Governo e os seus programas á complexidade da conjuntura político-militar
que o país vivia.
Mas o que se vê é que o país está destruído.
Devemos reconhecer que os dez últimos anos de guerra que o país atravessou,
destruíram-no gravemente e em grande parte. Na maioria das capitais de
Província, excluindo as costeiras, todas as fábricas foram destruídas, os
edifícios públicos, incluindo hospitais e escolas, os estabelecimentos
comerciais e residências privadas foram danificados por projécteis de todo
o género ou pura e simplesmente dinamitados, os sistemas de distribuição
de energia e de água foram destruídos; os meios técnicos e rolantes foram
destroçados.
P - É obvio que Luanda sofreu com o crescimento demográfico e nas outras
províncias quais foram os reais prejuízos?
R - No interior dessas mesmas províncias, vilas inteiras foram arrasadas e
centenas de aldeias foram incendiadas.
As estradas, além de cortadas por imensas ravinas por não poderem ter sido
assistidas, viram suas pontes também demolidas; os campos que as
populações cultivavam, foram minados; pequenas barragens destinadas à
irrigação foram demolidas; as linhas férreas, incluindo pontes, foram
destruídas, as pistas de aviação foram danificadas, etc., etc. No que respeita às
populações, milhões de angolanos viram-se forçados a abandonarem as suas
terras para se concentrarem nas cidades cercadas, em busca da protecção do
Governo. Sem casas e sem alimentação adequada e muitas vezes sem
medicamentos, viviam em cabanas e em tendas como refugiados na sua
própria terra. O desemprego aumentou exponencialmente.
O crescimento brusco das cidades não foi acompanhado pela construção
das necessárias infra-estruturas e serviços; as redes de abastecimento foram
ultrapassadas e desapareceram e o abastecimento das populações
deslocadas só podia ser feito por via aérea e por isso era caríssimo e
insuficiente; as escolas deixaram de comportar o número subitamente
aumentado de crianças vindas do interior, a separação das famílias (pais para
um lado mães para outro e filhos perdidos) e a miséria, provocaram o
aumento da prostituição e da delinquência; o número de amputados vítimas
de minas e outros engenhos nessas cidades também aumentou
vertiginosamente. Tudo isso sem falar das gravíssimas consequências
psicológicas e psíquicas, políticas, culturais e administrativas, que toda
essa movimentação causava no seio do nosso Povo.
P - Esse quadro nós sabemos que existe, basta sairmos às ruas. O que de
concreto está a ser feito para mudar estar situação?
R - Não podemos nos esquecer que era esse o quadro que Angola
apresentava em 22 de Fevereiro de 2002, e que o GURN é chamado
a modificar com o empenho de todo o Povo.
Contudo, apesar dessa situação o país nunca parou. Houve alturas de
expectativa e de incerteza, mas nunca de desespero ou de pânico. A guerra
pela Paz tornara-se a grande prioridade e tinham então de ser congelados
grande parte dos projectos e programas do GURN e dirigidos os recursos
para a defesa, sob os protestos, quantas vezes insultuosos, de rádios,
jornais e alguns membros da sociedade civil menos esclarecidos, e as
acusações gratuitas de ong`s internacionais e nacionais que pareciam
desejar o infortúnio do nosso Povo. A outra grande prioridade era a
assistência multiforme às populações cercadas.
P - Senhor ministro ocorreram mudanças também no campo político?
R - No campo político, foram feitos um esforço grande e a ginástica
institucional necessária pelos órgãos de soberania do país no sentido de
se evitar o descarrilamento do processo de paz, por um lado, e de se
preservar a democracia, por outro.
P - Como é que ficou a relação entre o nosso país e a comunidade
internacional?
R - No domínio diplomático, foi necessário empreender iniciativas ousadas e
muitas vezes delicadas junto da Comunidade Internacional na busca de meios
financeiros e logísticos para alimentar o nosso sistema e fazer face às
necessidades criadas pela guerra. Tais esforços nunca deram os resultados
esperados em virtude de serem torpedeados não só por inimigos externos de
Angola como também por adversários internos do Governo que viam na ajuda
internacional a Angola, uma vitória sobre a rebelião armada.
Também fomos forçados a participar no esforço de estabilização da
região, factor essencial para a segurança do nosso próprio país.
P - O que está a ser feito para que a sociedade possa sentir os efeitos da
transição guerra-paz?
R - Hoje, Angola vive uma situação diferente. A guerra acabou, o Povo
respira a paz e quase todos, graças a Deus, tendo já esquecido esse passado
tão violento, empenham-se com grande e profunda consciência no processo
de reconciliação nacional. A comunidade Internacional está mais receptiva ás
nossas posições e acreditamos que a situação vai melhorar.
Enquanto se melhora a legislação de forma a reforçar as instituições,
consolidar a democracia e a transparência na governação, a urgência do
momento é a reconstrução nacional, para o desenvolvimento do nosso país
e para a erradicação da pobreza do seu seio e é nisso que o Governo está
profundamente empenhado.
P - Senhor ministro, acredita que foram reunidas todas as condições para isso?
R - Ora, esse desiderato passa em primeiro lugar pela reposição da autoridade
administrativa do Estado em toda a extensão do país, a assistência às
populações deslocadas e aos ex-militares da UNITA que se encontram nos
centros de acolhimento, e a preparação de condições para o seu regresso às
áreas de origem. Muitos desses deslocados viviam em matas quase
intransponíveis, expostos á nudez, ás intempéries e a todo o tipo de doenças,
caminhando a pé centenas de quilómetros assolados pelo cansaço e pela
fome, e chegaram a esses centros desprovidos de tudo e num estado de
saúde grave muitas vezes terminal. Daí ter o GURN, numa operação de
emergência, disponibilizado do OGE tão logo começaram a chegar os
primeiros aos centros em questão, avultadas mas ainda insuficientes
verbas ( 120 milhões de dólares para começar) para sua assistência. Esse
esforço prossegue até hoje e deverá continuar por algum tempo.
P - O senhor ministro, que diz então sobre as críticas que são feitas por
algumas individualidades e até mesmo através da imprensa?
R - É lamentável que alguns órgãos de informação e algumas individualidades
que se querem idóneas, procurem hoje, no intuito visível de manipularem as
populações, dar a entender que o Governo pouco ou nada tem feito para
assistir as pessoas deslocadas e reconstruir o que a guerra destruiu. Por
outras palavras exigem que o Governo reconstrua em apenas dez meses,
que é o tempo que nos separa desde o advento da paz, o que foi sendo
destruído durante 26 anos. Só objectivos políticos desonestos podem justificar
tal atitude.
O GURN continuará a implementar o seu programa para a reconciliação
nacional e reconstrução do país rumo ao desenvolvimento e a erradicação
da pobreza.
P - Senhor ministro, o que é que vai nortear as actividades do governo nesta
nova empreitada?
R - Tão grande tarefa será levada a efeito de mãos dadas com todos os
angolanos de boa fé, capazes de colocar Angola acima dos seus interesses
particulares, independentemente da sua filiação partidária, crença religiosa
ou posição social.
>>>SEGUE |